O professor que faltou às aulas por causa de uma melga

O professor que faltou às aulas por causa de uma melga

Era um professor do norte da Inglaterra, matulão. Recordo sobretudo que tinha umas mãos enormes. Era demasiado sério, mas nas aulas era simpático e os alunos gostavam dele.
Naquele dia não apareceu no IF para dar aulas. Não mandou recado nem telefonou. Pura e simplesmente não apareceu, deixando-nos pendurados. Lá nos desenrascámos como pudemos e no final das aulas resolvemos ir ao quarto dele saber o que se passava. Estávamos preocupados, porque se tratava de um rapaz muito responsável, o tipo de professor que só faltaria se tivesse um motivo forte. Batemos à porta, pois o quarto tinha serventia separada. Ouvimos lá dentro um som abafado e, como ele não nos veio receber, pensámos que devia estar mesmo aflito. Com a ajuda da senhoria, que nos abriu a porta, entrámos no hall e ficámos de boca aberta: ele estava agachado num canto, todo enrolado em cobertores e lençóis, com uma toalha de banho a cobrir-lhe a cabeça por completo. Gritou-nos, em tom desesperado, através do turco da toalha:
– Please kill it! That bloody mosquito! zzzzz….zzzzz…zzzzz….. all night, non stop, zzz….zzzz…. That’s crazy! Help me!
Estava fora de si. Gesticulava por baixo dos lençóis, a tentar matar mosquitos imaginários e a apontar-nos insistentemente o quarto. Entrámos no quarto: estava tudo de pernas para o ar, parecia que tinha havido ali uma batalha.
Não foi difícil imaginar o que se tinha passado. Ele não conhecia as nossas melgas que, quando teimam em ser chatas, são mesmo chatas! Tiram a paciência a um santo. Apagamos a luz e passado algum tempo zunem-nos ao ouvido em voos rasantes, mas desaparecem quando acendemos a luz para as matar. Conseguem transformar-nos uma noite num inferno. O desgraçado deve ter sofrido bastante, numa batalha inglória que lhe deu cabo dos nervos.
Falámos com ele, com calma. Pedimos-lhe para sair do casulo de cobertores e lençóis, pois íamos resolver o problema. Íamos comprar Dum-Dum, não ia sobrar melga viva no quarto. E íamos colocar rede na janela para evitar a entrada de novas melgas.
Foi regressando ao normal, lentamente. Pediu desculpa por não ter aparecido no IF e perguntou como tinham corrido as aulas. Convidámo-lo para sair, para irmos petiscar qualquer coisa porque ele ainda devia estar em jejum. Depois de alguns copos já estávamos todos animados, rindo do exagero da situação. O professor apenas nos pediu para não divulgarmos o caso. Acho que não conseguia aceitar o facto de ter sido derrotado por um bicho tão pequeno. Ele, que tinha um físico impressionante e umas manápulas que facilmente esmagariam várias melgas com uma só palmada. O difícil era apanhá-las distraídas…

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