O professor que passou cá o Natal… e se arrependeu.

O professor que passou cá o Natal… e se arrependeu.

Era um rapaz ainda bastante novo, vinte e tal anos. Voluntarioso, arrojado, por vezes impertinente. Tinha um sorriso gozão, que gostava de exibir em relação a tudo o que se pudesse comparar com a Inglaterra: a nossa maneira de trabalhar, os nossos costumes, o nosso país. Um pequeno complexo de superioridade, tipicamente britânico.

No início de Dezembro armou-se em forte:
“Não vou passar o Natal em casa, fico aqui. Afinal, é sempre a mesma coisa: as mesmas caras, o mesmo peru, os mesmos doces. Uma viagem de avião, tanto cansaço e dinheiro gasto para quê? Vou ficar aqui e provar o vosso bacalhau. Um aluno disse-me que podia passar o Natal com a família dele e é o que vou fazer.”
Passaram os dias, começaram as férias do Natal e todos se foram aproximando da família para passarem a consoada. O IF ficou vazio: sem alunos, parecia ainda mais frio. À medida que os dias passavam, fui vendo que o professor ia amolecendo por dentro, embora tentasse não dar parte fraca. Na véspera de Natal fui dar com ele a espreitar o movimento da avenida através da janela. Virou-se para mim: estava a chorar. E com gritos de revolta, justificou-se:
“O problema não é o peru, nem os doces, nem o Natal. O problema é eles estarem todos juntos lá em casa e eu não estar lá, percebes?”
Claro que eu percebia.
Acho que ele aprendeu uma lição — e eu com ele. Muitas vezes parece-nos tempo perdido o tempo que perdemos com os nossos. Mas há sempre um lugar no meio da nossa família que sempre nos aguarda e que apenas pode ser preenchido por nós. Por isso, o melhor mesmo é fazermos o possível por “estarmos sempre lá”.

 

 

 

 

 

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