O crava
Trabalhava no IF um professor que era irritantemente crava. Não perdia uma oportunidade para comer ou beber sem pagar. Chegava a ser descarado.
Se eu estivesse no café a falar com amigos e ele entrasse, era certo e sabido que ele se ia sentar à minha mesa e mandava vir um café, uma sandes ou até mesmo uma tosta mista. Depois ficava ali a falar e a ouvir, a enrolar o tempo até se escapar disfarçadamente. Eu que pagasse a conta.
Ele irritava. Mas fazia aquilo tão bem feito que levava sempre a melhor. Um dia sugeriu irmos almoçar: ele, dois professores e eu. Comeu bem, bebeu vinho que eu tinha encomendado e no fim nem falou do pagamento. A conta veio para mim e eu paguei, claro.
Uma vez ele pediu-me o carro do IF para dar uma volta com um amigo inglês que o tinha vindo visitar. Não tive coragem para dizer que não. Quando me entregou a chave no final do dia disse-me que tinha resolvido fazer uma cópia da chave. Ao ver a minha cara de intrigado acrescentou que a partir daquele dia bastava pedir o carro. E tudo seria mais simples porque já tinha uma chave. Fiquei incrédulo, de boca aberta. E ainda a abri mais quando ele me pediu o dinheiro que tinha gasto na cópia da chave! Alguém me devia ter dado uma marretada na cabeça quando peguei na carteira e lhe paguei o que me pediu.
Tenho de reconhecer: ele era realmente um crava muito eficiente!