Exageros à americana

Exageros à americana

Trabalhavam dois professores no IF que eram americanos.
Com eles fui aprendendo que na América é tudo à grande. Para eles “bom” é suficiente, “muito bom” é razoável e para se ser bom tem de se ser considerado “excelente”. Reparei nisso ao ler os currículos que enviaram. As notas deles eram altíssimas, as cartas de recomendação estavam cheias de adjectivos no superlativo. Cada um deles por onde passou tinha sido “muitíssimo dedicado”, “muitíssimo competente”, um “excelente professor”. Ao princípio até fiquei impressionado, mas mais tarde verifiquei que aquilo era prática comum na América. Até no modo como conversavam: exageravam ao falar do que sentiam, mas notava-se bem que as palavras não correspondiam á realidade.
Um exemplo:
Uma altura a mãe de um deles veio visitar o filho e ficou por cá uma semana. Fui com eles almoçar fora e sentámo-nos à mesa de um restaurante humilde mas que servia comida caseira, de qualidade. Foram eles que me sugeriram um sítio onde pudessem comer algo tipicamente português. O prato do dia eram “jaquinzinhos” fritos com arroz de tomate. Veio a comida e estava maravilhosa. Os carapaus pequenos e crocantes, o arroz soltinho e delicioso. Os americanos começaram a comer e a derramar adjectivos: “delicious! fantastic! wonderful!”. Mas eu reparei que, apesar de tantos elogios, apenas iam debicando o arroz. Pelos três, comeram (ou melhor, esfacelaram) quatro míseros carapauzinhos. Deixaram na travessa, intactos, para cima de trinta. Mesmo assim, continuaram a gabar a comida até saírem do restaurante. A necessidade de exagerar vinha-lhes naturalmente à boca. Pareciam não sentir o significado e o peso das palavras.
Desde esse dia que divido por dez qualquer afirmação exagerada de um americano.

 

 

 

 

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