O professor do assobio
Dele, todos se recordam da maneira original como explicava a gramática no quadro: fazia grandes movimentos com o dedo bem esticado, acompanhados de sonoros assobios. Por exemplo: “na interrogativa o sujeito vai depois do auxiliar (pi… pi…), o ‘do’ junta-se a ‘not’ e fica don’t (pi… pi…), etc”. Era um método que (penso eu) servia para consolidar as regras gramaticais de forma visual e auditiva. Só que os alunos não o levavam a sério e riam-se à socapa. Ficou o “professor do assobio”.
Carregava com ele uma lata de feijão cozido da Compal que abria em qualquer altura do dia e ia comendo, à mão. Era só o que lhe víamos comer: feijão cozido.
Vestia de forma descuidada, mas cuidava minimamente da higiene.
A surpresa estava guardada para o fim.
Ele partilhava um apartamento alugado pelo IF. Quando fomos a abrir a cama para retirar e lavar os lençóis ficámos de boca aberta: aos pés da cama, carradas de terra e montes de pedras. Uma coisa nunca vista. Devia dormir de sapatos calçados, sei lá. Enfim.
Pelo menos aguentou-se o ano todo e não comprometeu como professor.
Mas quando, passados alguns meses, eu recebi uma carta de uma escola inglesa de renome para darmos referências dele sobre o seu desempenho como Director Pedagógico (!) no IF, nem respondi. Francamente!