CROMO-3 O professor do perfume horrível
O professor T. era cromo, mesmo cromo. Tinha um feitio estranho, vestia roupas formais mas que nele eram desajustadas. Banhava-se todos os dias num perfume que ninguém conseguia tolerar. Estava sempre sozinho na sala de professores porque ninguém queria estar ao lado dele. Os professores pegavam no material e preparavam as aulas nas salas de aula, sozinhos. Ainda por cima não era bom professor, os alunos faziam gato-sapato dele.
Nesse ano organizou-se no IF de Leiria uma festa de Natal para todos os professores, recepcionistas e restantes funcionários.Era um grupo bastante grande. Foi na sala 4, que estava linda: árvore decorada, mesa farta, música de fundo. Estava tudo animado.
De repente todos se calaram e olharam para a porta. O professor T. tinha chegado: sorridente, cabelo escorrido e penteado a rigor, um casaco demasiado curto nas mangas, o conhecido perfume a empestar a sala. Disse “good evening” mas ninguém respondeu. Estavam todos com os olhos especados na rapariga que o acompanhava, os dois de mão dada e encostados um ao outro. Pelo aspecto ela não enganava ninguém: era uma prostituta.
O professor foi chamado à parte pelo director, foi-lhe dito que não podia entrar com ela, ele não entendia porque não podia estar na festa com uma “amiga”, a rapariga percebeu o que se passava e começou a afinar, enfim, uma confusão.
Depois de muito esforço saíram os dois do IF, cada qual a praguejar à sua maneira: um em inglês, outro em português. A festa continuou, com a animação possível.
A partir desse dia o professor deixou de falar aos colegas (que pouco se importaram).
Ainda hoje quando recordamos esse “cromo” vem-nos imediatamente à memória o cheiro intenso daquele perfume horrível…