O PROBLEMA NÃO ESTÁ NO CÃO, MAS NA FALTA DE INFORMAÇÃO
(A propósito do exame de inglês no 9º ano “PET”)
Conheço um jovem casal que vive com um filho pequeno numa casa isolada, com quintal e muro à volta. Um dia o pai chegou a casa com um cão, que se apresentou aos novos donos aos saltos feito doido, as patas sujas contra o vestido da esposa e em correria louca atrás do menino que tentou refugiar-se na garagem. Sem receber a atenção que procurava, virou a energia para as flores à volta, partiu vasos e plantas, fez chichi contra os pneus do carro. O que qualquer cão faria se acabado de chegar.
— Que vem a ser isto? Onde é que o arranjaste? — perguntou a esposa, mal refeita do susto.
— Na PET SHOP do Centro Comercial. Não é lindo? Está apenas excitado. E tem as vacinas em dia, não te preocupes.
— Apareces-me aqui com um cão, assim de repente, sem falarmos primeiro?
— Mas, querida, já falámos tantas vezes que seria bom termos um cão cá em casa… Para ficarmos mais seguros, para fazer companhia ao menino, não te lembras?
— Mas podíamos ter falado antes de o teres trazido, não? É um assunto que diz respeito a todos, incluindo o nosso filho, penso eu.
— Mas falar de quê? Precisávamos de um cão, não é verdade? Um cão é um cão, e este é de raça pura, não foi nada barato.
— Não é bem isso… Sei lá, podíamo-nos informar melhor, preparar a vinda dele, escolhermos a raça, eu também podia ter ido contigo à loja… Agora assim, é preciso um cão toma lá um cão, não achas que nos estás a impedir de termos voto na matéria?
(…)
Bem, pode-se atalhar o final, que é fácil de adivinhar: depois dos protestos iniciais, o olhar meigo do cão acabou por conquistar toda a família, incluindo os avós que moravam perto. E hoje é o ai – Jesus lá de casa.
Mas esta história podia realmente ter começado de outra maneira, não acham? Podia-se ter falado mais, antes do assunto consumado. O cão poderia ter tido outra recepção se não tivesse sido imposto, se previamente tivesse havido mais partilha de informação antes da sua vinda. E se algo correu mal, numa coisa todos estamos de acordo: a culpa não foi do cão!
Tudo isto a propósito do PET, o exame de inglês (de Cambridge) acabado de ser imposto por decreto aos alunos do 9º ano. Ninguém sabe do que se trata, qual a sua importância, se é oficial ou não, etc. Anda tudo confuso: professores, pais, alunos. É mais fácil saber-se que “pet” em inglês significa “animal de estimação” do que PET ser a sigla para Preliminary English Test. O Ministério da Educação fez tal e qual como o senhor que trouxe o cão: era preciso um exame a nível nacional, desencantou um exame. Partiu do óbvio, que era o facto de todos concordarem com a necessidade de se aferir o nível de inglês nas escolas, por isso fez uns acordos de bastidores e… tomem lá um exame! Um exame de renome internacional! Agradeçam, seus ingratos!
Claro que o Ministério vai aguardar que os protestos (ténues) em relação ao modo como se impôs o exame acabem por se diluir com o tempo. O facto de ser um exame com “pedegree” internacional vai serenar todos os que agora se indignam e teimam em pedir informações. A “marca” do exame vai acabar por fazer esquecer as humilhações dos professores, as dúvidas e o dinheiro extra gasto pelos pais (que se quiserem o comprovante… pagam!). Bem, do esforço dos alunos nem se fala, afinal estão na escola para fazer o que lhes manda. Preparar e informar os alunos para quê? Quanto mais souberem, mais chatices arranjam. Basta que saibam a data e o local do exame, pouco mais.
Confusos com este assunto? Esqueçam. Lembrem-se do cão, disponível e agora feliz entre os novos donos. Pelo menos esse “pet” não complica…
A.P.